domingo, 29 de julho de 2012

Ambientalistas e hackers defendem livre circulação da informação



Painel durante fisl13 trouxe informações sobre o controle da informação nas áreas de agricultura, meio ambiente e tecnologia.

A união entre hackers e ambientalistas parecia impensável até o último dia do fisl13, em que o painel O que está aproximando hackers e ambientalistas? Bem-vindo à Biopolítica Reload aproximou os temas e mostrou que as semelhanças são maiores do que se pensa. Os convidados foram Camila Moreno, Larissa Ambrosano Packer e Sérgio Amadeu da Silveira e o diálogo foi conduzido por Dawid Danilo Bartelt.

Sérgio da Silveira, sociólogo e doutor em Ciência Política e defensor do software livre, apresentou um panorama sobre a evolução da sociedade e das formas de controle que ela impõe e sofre. Segundo ele, as máquinas nos dão liberdade, mas também nos controlam. “Cada vez mais usamos o celular. Ele nos dá a possibilidade de falar com qualquer um, de qualquer lugar. Mas, se ficamos sem bateria, ficamos desnorteados. Passamos a organizar nossas vidas em torno dessas máquinas”, afirma. Porém, para Sérgio esta é a realidade em que se vive e não existe biotecnologia, nanotecnologia nem evoluções na medicina sem o controle digital. “O conhecimento sobre o código da vida vem evoluindo graças à tecnologia, mas isso também causou o aumento do patenteamento das descobertas e isso atrapalha o avanço da medicina”, alerta o professor.

Seguindo esta mesma linha, Larissa Packer, assessora jurídica na Terra de Direitos, explicou os mecanismos de controles de sementes por grandes monopólios mundiais. “É a aplicação de patentes sobre formas de vida. Tudo o que foi transformado durante séculos através do trabalho de agricultores, hoje é patenteado por apenas alguns grandes grupos”, diz. Segundo Larissa, a semente se tornou propriedade privada no Brasil em 1968, quando a biotecnologia começa a estudá-la. “A partir daí, empresas que estudaram o código genético de sementes e aplicaram alguma inovação, conseguiram a patente sobre elas. Isso faz com que qualquer produtor tenha que pagar para utilizar a matéria-prima”, afirma. E isto acontece em todo o mundo. “Poucas empresas controlam o que comemos e o preço. E não temos como saber por quais modificações genéticas passam essa matéria-prima, nem o impacto que podem causar na saúde”, pondera.

Camila Moreno, coordenadora de Sustentabilidade da Fundação Heinrich Böll, reforçou o debate afirmando que a reprodução do capitalismo não acontece sem duas coisas: plataforma digital e o petróleo. O sistema entraria em colapso se não houvesse o petróleo. “Já imaginaram tirar todo o plástico dos produtos que compramos no supermercado? Como as mercadorias circulariam?” provoca. Porém, segundo ela, o mundo material tem limites. Camila explicou que o processo que move o capitalismo atual é a urbanização das cidades. “Esvaziando o campo e levando as pessoas para as grandes cidades, há mais controle e mais consumo”, afirma. Entretanto, este mecanismo gera uma série de consequências preocupantes. “Muito se fala em neutralizar o carbono. Isso virou um negócio de bilhões de dólares. O aumento do consumo faz com que haja mais poluição, mas o mercado do carbono deu aos ricos o 'direito de poluir'', pontua.

O consenso entre todos os pontos de vista foi de que a união entre hackers, defensores do software livre e ambientalistas críticos seria benéfica para a luta pelo livre compartilhamento do conhecimento. “Se o hacker não defende o direito de compartilhar, está indo contra a sua própria causa. Hackear é desconstruir, é tornar acessível aquilo que é fechado”, observa Sérgio Silveira. “Seja na indústria da agricultura, na medicina ou na tecnologia, não podemos aceitar que o conhecimento seja encarado como uma 'coisa'  que possa ser vendida e controlada por uma minoria”, afirma Larissa Packer. “É preciso compartilhar o conhecimento para que ele continue existindo”, finaliza.

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